quinta-feira, 26 de março de 2009

Continuação...Violência Velada (2)


A vergonha é um dos fatores que limitam a ação da mulher contra a violência psicológica e muitas vezes física. Vergonha de ser vista como culpada, fraca, idiota, mentirosa (pois a maioria destes homens é muito bem comportado socialmente e mostra uma máscara de calmo e muito legal). A vergonha de ter escolhido mal seu parceiro ou de ter um pai que não a respeita e a chama de vagabunda. De ser olhada como incapaz de transformar seu marido violento e deselegante num marido maravilhoso, como se fosse dela esta árdua missão, uma missão impossível.
É comum se ouvir que a mulher pode mudar o homem, torná-lo um trabalhador honesto, fazer com que ele largue o vício de beber, quando ele já é um alcoólatra de carteirinha. Que a mulher pode colocar o homem no seu devido lugar e fazer com que ele se torne o melhor pai de família e o melhor homem do mundo!
Isso acontece, mas só até a décima pagina da história, quando a paixão acaba e o maridão não precisa mais fingir, está cansado de ser o que ele não é, cansado de fazer a vontade da esposa e aos poucos vai mostrando que não mudou de verdade, volta a maltratá-la usando o estresse do trabalho como desculpa de sua agressividade verbal ou física, mesmo que em forma de desprezo às súplicas de atenção.
Muitas vezes ouvi de uma noiva que o parceiro alcoólatra mudaria depois do casamento, pois ela conseguiria isso e a responsabilidade do casamento daria à ele o estímulo para sair do vício, além dele ter prometido isso como prova de amor . Acompanhei a vida destas clientes e o que vi foram as lágrimas e arrependimentos por terem se iludido com tal mudança.
Muitas vezes falei sobre os parceiros que já davam sinais de agressividade e minhas clientes diziam: “Comigo ele não fará isso, comigo não, ele sabe que não admito ofensas. A ex era maltratada porque não exigia respeito, era uma idiota, eu sei lidar com ele.”
E o que vi foram estas mesmas clientes destruídas psicologicamente, em busca de socorro, acorrentadas numa relação infeliz em nome do amor (ou co-dependência?) e na esperança dele mudar um dia. Outras até enfrentaram, partiram pra cima e ganharam hematomas e dentes quebrados.

Preferia não estar falando disso, mas é necessário, pois este tipo de violência acontece a cada minuto todos os dias na vida de quase todo mundo. Seja no meio familiar, entre amigos, entre casais e etc.
Penso que teríamos menos doentes nos hospitais, menor estatística de câncer, menos surto, menos ataques cardíacos, menos hipertensos, menos suicídios, número menor de homicídios e tantas outras coisas se os seres humanos se respeitassem mais.

Digo que é necessário alertar as pessoas para que elas estejam mais atentas ao que escolhem para si mesmas e não acreditarem em mudanças milagrosas em nome do amor. O amor cura muitas coisas, mas não cura outras mais graves que podem levar a pessoa ao caos de sua própria existência. E até para que busquem ajuda terapêutica para resolver suas aflições internas, em vez de achar que o casamento e a constituição de uma família vai livrá-las do pesadelo que carregam dentro de si mesmas.

Se o casamento não cura gastrite, espondilite, catapora, calo, artrose e etc, porque haveria de curar psicose, neurose grave, personalidade psicopata, ciúme patológico, Personalidade Borderline e tantas outras psicopatologias?
O que cônjuge (ou parente) pode fazer, no máximo, é estimular o doente a se tratar, oferecer amor sem se tornar co-dependente dele e nem alimentar sua doença mimando-o ou se tornando objeto da sua agressividade.

Se casamento curasse este tipo de doença, os psiquiatras e psicólogos poderiam tirar férias coletivas para sempre. Mas ao contrário disso, os consultórios estão lotados de pessoas em busca de um socorro para seus relacionamentos familiares e conjugais. E ali descobrem que há algo dentro delas que de alguma forma escolheu ou permitiu que permanecessem na violência após a máscara do parceiro cair e a visão do inferno começar a fazer parte de sua paisagem de vida.

Como foi dito acima, muitas são as justificativas para a mulher permanecer numa relação onde ela sofre psicologicamente, mesmo que ela saiba se defender e grite, xingue e agrida também.
Não podemos pensar que duas pessoas, em pé de igualdade, que brigam muito e se violentam mutuamente, sejam o exemplo de um casal saudável. Temos aí dois neuróticos “sadomasoquistas” que acham que se amam, mas na verdade se usam para expandir suas patologias de diversas formas.

Escuto pessoas dizerem: “Brigar é normal, entre tapas e beijos, vamos levando, a gente se xinga, até se bate, mas depois vai pra cama e tudo fica bem.”...SEM COMENTÁRIOS NÃO É?...Só peço que não chamem isso de AMOR...

Pior que isso é escutar: “Ele é grosso, xinga muito, magoa minha alma, fere como pode, mas sei que ele me ama, é o jeito dele. Acabo perdoando, pois ele pode ter amante, mas é pra mim que ele volta sempre!”...Ai Ai! Meu Deus!

Sentimentos como desgosto, arrependimento, medo, morte em vida, decepção, culpa, estado de alerta constante, tristeza, vergonha e tantos outros, tomam conta deste ser humano tão ávido por ser feliz.

É comum se achar difícil diferenciar amor da paixão, mas eu incluiria aí a dependência afetiva.
Difícil à própria pessoa diferenciar estes três sentimentos. Observo que quanto mais a vítima da violência psicológica afirma que AMA, mais ela mostra que, na verdade, ELA DEPENDE de seu algoz.

São tantas as formas explícitas ou sutis de violência psicológica que tentarei abordar algumas delas usando exemplos que obtive em meu consultório. Falaremos também da violência sofrida no trabalho, na relação interpessoal, nas humilhações por chefes e funcionários.

Como já disse, este assunto é longo mas acredito que seja interessante, pois você mesmo pode estar passando pela violência velada ou sendo o agressivo sutil sem perceber. Estaria você “Dormindo com o Inimigo?”

A VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA NÃO DEIXA MARCAS FÍSICAS, MAS DEIXA MARCAS MORAIS E EMOCIONAIS QUE PODEM SER DEVASTADORAS....PORTANTO NÃO PODE SER IGNORADA.
Aguardem a continuação...

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